quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Sobre a USP ocupada..

Interrompo meu afastamento do blog por ter certo tempo de 'desocupação forçada' e por conta da grande repercussão do caso de estudantes presos com maconha dentro da universidade.
Merece um breve comentário. Por um acaso o movimento a favor da legalização da maconha já parou para pensar sobre a necessidade de transformar qualquer apoio que tenham em apoio ativo ou esperam mesmo que as autoridades que estão aí legalizem seu uso? Se pensassem veriam com facilidade que o cidadão que trabalha seus dois expedientes por dia e fume seu fino para dormir e não "incomodar ninguém" mesmo com a maconha legalizada, na sociedade atual, seria mandado embora de seu emprego sem maiores explicações caso utilizasse de seu direito publicamente. Logo o problema não se resume a algo escrito no papel.
Transformar o debate na questão da permanência ou não da polícia na universidade mostra por um lado a covardia do movimento em fugir do caso em questão e monta por outro um palco para discursos bonitos em palavras e vazios de conteúdo. Qualquer lunático que vive nos dias atuais percebe facilmente que é necessário mais empenho e organização das massas para manter a paz entre os animais; que o que temos, hoje, neste país - e, em diferentes graus, no resto do mundo - já se encontra no patamar de guerra civil. Sabemos que a polícia que aí está serve  unicamente para enricar certas corporações - experimentem prestar atenção em na rapidez com que surgem "suspeitos" quando morre um deles... Mas propor que ela simplesmente suma e não seja substituída por nada (ou por concursados de porrete na mão) é abusar da paciência de quem estuda ali; é atirar a raiva do estudante comum em cima do maconheiro; é abrir caminho para a privatização da segurança na universidade; é substituir uma milícia com interesses próprios por outra. Senão, significa dizer que o movimento enxerga a possibilidade de armar a comunidade universitária e organizar núcleos eleitos, com mandatos revogáveis a qualquer momento, periodicamente para cuidar desta tarefa? Daí seria necessário organizar-se também, já que há esse nível de organização, para controlar o funcionamento da instituição e ajudar a organizar os trabalhadores em seus locais de trabalho - em suma, olhem só, nos proporíamos a criar o Estado operário dentro da USP! Àqueles que ingenuamente dizem ser essas as reivindicações corretas para hoje, que não percam seu precioso tempo discutindo comigo ou com outros na internet: corram à USP e mobilizem a esmagadora maioria dos estudantes que, de certo, estará com vocês...
Como a questão da legalização tem sido colocada até na televisão, por figuras "importantes", está aberta uma possibilidade de fazer propaganda, de mostrar para as pessoas o que é maconha, o que ela faz, o que ela não faz, como e desde quando é usada e cultivada... Enfim, informar o que nunca pôde ser informado massivamente, fazendo uso dos mais diferentes meios. O ato de "legalizar legalizando" é algo que não pode se enfrentar frontalmente com o poder instituído, a não ser os maconheiros tenham a pretensão de tomar o poder para si. Vale lembrar que fuma-se maconha cotidianamente na universidade e os encontros, logicamente, contam com quantidades expressivas de vários ilícitos - além dos não menos nocivos lícitos. O ser humano se droga. Fuma, bebe, alguns cheiram, injetam coisas nas veias, assistem televisão, lêem a bíblia... Nunca será pela força que isso deixará de acontecer. Estupidez é algo induzível, dependendo das condições de vida da gente resistimos mais ou menos às inumeráveis drogas lícitas e ilícitas que nos vendem. Como está muito mais fácil apelar a alguma droga que mudar a estrutura de nossa sociedade, temos que encontrar a culpa de nossa impotência onde? Nas drogas alheias, claro! Porque a minha, não, essa não faz mal a ninguém.
Como ao invés de estarem se organizando para uma batalha relativamente longa para ganhar a consciência da maioria, os mártires do movimento estão morrendo de orgulho dos 3 mil estudantes que participam de uma assembléia, terão sorte os que saírem ilesos.
Fora a polícia, quando estivermos armados e organizados para tomar-lhes o que é nosso!
Enquanto isso, preparemos nossos destacamentos com cuidado e longe dos holofotes deles.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Sobre a campanha salarial dos rodoviários de Fortaleza


Ao dia 2 de agosto do ano de 2011 entram em acordo a diretoria do SINTRO, representantes da justiça do trabalho e o SINDIONIBUS em razão de um aumento salarial de 8%, com aumentos diferenciados para o vale-refeição (R$0,50) e vale-alimentação (R$5,00).
A campanha salarial da categoria representada pelo SINTRO estendia-se desde março do corrente ano até o presente mês. Pediu-se inicialmente um aumento no salário equivalente a 25% do mesmo. Os representantes da patronal passaram por oito rodadas de negociação sustentando que não negociava nenhum valor acima de 6,3%. Na oitava rodada de negociações, ocorrida no fim de julho, os representantes dos patrões colocam a seguinte exigência: para que haja conversa o SINTRO precisa apresentar uma reivindicação abaixo de dois dígitos (menos de 10% de aumento). Após reunião da diretoria o SINTRO entra em contato com a mediadora da Justiça do Trabalho e comunica que, para não haver greve, estaria disposto a rebaixar a reivindicação do aumento salarial para 9,9%. A atitude do SINDIONIBUS, após o rebaixamento oferecido pelo sindicato dos trabalhadores, foi: ignorar qualquer negociação com o sindicato dos trabalhadores rodoviários e entrar na justiça com o pedido do dissídio coletivo da categoria a partir do valor que eles queriam.
Chamada pela sua diretoria a categoria decidiu a data de sua greve em assembléia. Nas assembléias, onde ocorriam monólogos da diretoria e apoiadores políticos da greve com votações ao seu final, os trabalhadores que estiveram presentes aprovaram a greve euforicamente, com apenas um voto contrário. Decidida a greve o sindicato dos trabalhadores se despede de sua base nos seguintes termos: vão e façam sua greve que nós faremos a nossa parte. Mais que isso só seria dito mais tarde, em uma reunião do “comando de greve”, a ser realizada na sede estadual da Conlutas. Essa reunião que não foi comunicada sequer à categoria em sua assembléia, contou apenas com representações sindicais todas ligadas de alguma forma com a própria Conlutas. Antes da reunião, no entanto, a imprensa dos grandes empresários teve a chance de ouvir um último comunicado sobre os motivos da greve – que, segundo os representantes da categoria, era fruto apenas da intransigência do SINDIONIBUS nas negociações.
Na manhã do anunciado primeiro dia de greve o SINDIONIBUS convoca uma reunião onde foi fechado o acordo no percentual de 8%. À tarde ocorria uma nova assembléia, com menos da metade de trabalhadores presentes àquela que decretou a greve, e cuja votação exprimiu a indisposição de boa parte da categoria em votar a proposta apresentada. A outra assembléia que deveria “comunicar” à categoria os termos do acordo já firmado, marcada para a manhã do dia 3, sequer ocorreu.
O significado político deste acordo
Não é preciso ser um mestre em matemática para ver que o signo econômico do desfecho da campanha foi um fiasco. Segundo Dimas Barreira, presidente do SINDIONIBUS, “cada um cedeu um pouco” – o pouco deles foi de 2% e o dos trabalhadores foi de 17%! Segundo Valdir Pereira, assessor político do SINTRO, a luta dos rodoviários tem o objetivo de atingir quatro salários como piso – ganhando os motoristas o equivalente a pouco mais que dois salários, o aumento de noventa reais (R$90) não aponta para a concretização desta meta em menos que 10 anos, admitindo-se que haja ganho real todo ano.
Se o significado político não é o mesmo do econômico, também não podemos cair na estupidez de dissociá-los. Como pode um trabalhador sobreviver com dignidade sendo o aumento de seu salário em 8% se apenas no mês de março de 2010 só o feijão subiu 8,46%[1]? A inflação geral calculada pelos economistas dos grandes empresários e do governo aumenta a cada ano, mas está longe de calcular a real situação dos trabalhadores. Se a vida do trabalhador não melhora a partir dos acordos que sua categoria faz com a patronal, como poderão nos dizer que daí se encontra uma vitória? Os atuais diretores do SINTRO, por bem intencionados que estejam, confundem sua lógica sindical com os reais interesses da categoria ao ir a público dizer que a campanha foi vitoriosa. Infelizmente o dito “aumento real” de 1,9% só pode significar uma vitória para a diretoria do sindicato, não para sua base.
É preciso lembrar que a atual diretoria do SINTRO, fruto de um ascenso ocorrido em 2008 – onde trocadores e motoristas fecharam por dias a circulação em todos os terminais da capital e algumas linhas da região metropolitana – goza de alguma confiança da categoria, pois retomar seu sindicato foi a principal vitória daquele levante e a atual diretoria é a expressão dessa vitória. No entanto, depois das duas campanhas salariais – uma “greve legal”, ou seja, uma greve de mentira e um acordo rebaixado – não é de admirar que já não houvesse ninguém disposto a aparecer na assembléia da quarta-feira pela manhã. Aos saltos a categoria vai perdendo a confiança em seus novos líderes que parecem não ser capazes de garantir uma greve de verdade. Os rodoviários, no entanto, nos dizem freqüentemente entre uma ou outra viagem durante o dia como deve ser e que ainda é preciso ser feita outra experiência aos moldes do que ocorreu em 2008. Os anseios da categoria apontam para um enfrentamento direto contra o SINDIONIBUS, pela criação de uma empresa pública de transporte coletivo, seguindo o exemplo da extinta CTC. Se a mudança política na direção do sindicato não é forte o suficiente para que eles caminhem em direção aos seus objetivos, a categoria passará por cima de seu sindicato. Afinal de contas, essa mesma categoria derrotou uma quadrilha que havia se apoderado de seu sindicato há dez anos, quando se perceber sem opção novamente, irá levantar-se contra seus reais inimigos com ou sem o consentimento de seu sindicato.
Há muita dúvida entre aqueles que organizariam a greve sobre os rumos que ela tomaria, mas uma coisa era repetida em uníssono por toda a categoria: se for parar tem que ser tudo. Só de observar o que era dito percebemos que há disposição de parar, de lutar e de vencer. No entanto, com essas palavras nenhum rodoviário estava sendo leviano e dizendo que uma ação deste tipo poderia ser feita de qualquer forma. Nos momentos decisivos para a categoria em decidir se ia ou não à greve, reinou a atmosfera expectante e por vezes eufórica de que juntos eles conseguiriam o que quisessem. De qualquer modo, era muito improvável que as esperanças da categoria se concretizassem, uma vez que na primeira e última reunião do chamado “comando de greve” só se tinha certeza de encontrar-se no sindicato às 6 horas da manhã, e sendo avivada sempre a ressalva que íamos a uma greve só por causa da negociação com o SINDIONIBUS – e a categoria não deixou passar esses detalhes ao pesar suas ações. A questão de fundo é que devido aos resultados da última campanha salarial, onde a categoria sofreu duros golpes, alguns dizem não saber se realmente haveria adesão da base a uma greve por conta dos danos que as últimas batalhas lhes causaram – demissões em massa que trouxeram ao campo de batalha uma camada muito jovem e inexperiente de trabalhadores, reforço das medidas repressivas tomadas dentro e fora das empresas, a sabotagem feita pelas empresas ao processo de eleição das CIPAS, o resultado do dissídio coletivo que a justiça só deu no fim do ano... Diante desses ataques que não foram combatidos à altura a partir do sindicato, é natural que o ânimo da categoria tenha recebido um golpe e que a relação entre a base e o SINTRO tenha ficado no mínimo mais sóbria. Seria o caso dos trabalhadores não estarem dispostos a lutar? Os testemunhos dos próprios trabalhadores não nos deixam concluir desta forma.
O que fica de mais marcante na campanha salarial 2011 dos rodoviários é o amadurecimento da experiência da categoria com seus novos dirigentes políticos. Aprende-se sobre as qualidades e os defeitos daqueles que deveriam ser seus principais aliados. Tanto sobre a preocupação em não dar brechas legais para que se desmonte o movimento desde seu início, quanto sobre a indefinição e o vacilar de figuras importantes no seio do movimento. Se as assembléias não servem para organizar ações dos trabalhadores, pelo menos servem para que eles reconheçam aqueles que estão dispostos à luta e aqueles que usam da mais proeminente enrolética para falar por vinte minutos e pouco (ou nada) dizer sobre como proceder – para a categoria aprender em quem pode confiar. Junto às limitações desses espaços note-se ainda que o desfecho da campanha se deu contrariando uma decisão da categoria – primeiro anula-se a greve votada em assembléia, depois se consulta novamente a categoria. E o mais sintomático: no dia da greve, trabalhadores ainda foram e boa parte sequer tomou parte na nova decisão e no dia seguinte simplesmente não foram.
O SINTRO hoje tem menos chances de defesa contra os patrões que ontem. Sua vida política depende exclusivamente da relação que nutre com o conjunto da categoria – e esta relação fica cada dia mais instável com resultados medíocres. Por mais que se consigam alguns aliados temporários na Justiça do Trabalho ou em partidos políticos a única aliança que os rodoviários podem fazer para não ter seu movimento decapitado é com o conjunto dos trabalhadores de Fortaleza e população pobre que depende do transporte coletivo. Se os atuais dirigentes da categoria não avançarem em ganhar a população e sua base para as reivindicações corretas, rumo à estatização do sistema de transporte coletivo e o fim do monopólio do SINDIONIBUS, suas cabeças acabarão rolando, de um jeito ou de outro.
Outra questão que demonstra o signo político do recuo da direção desta categoria é sua relação com o conjunto da luta dos trabalhadores de Fortaleza. O número de greves deste ano em nossa cidade avança como um rastilho de pólvora. Muitas categorias dos serviços municipais e estaduais (notadamente a educação) têm exposto suas faixas indicando a paralisação de suas atividades. Categorias que têm o mínimo de liberdade sindical, o que não é regra atualmente, todas estão levantando suas vozes contra seus patrões – que lucram horrores enquanto o supermercado dos trabalhadores cada vez menos cabe em seu bolso.
No entanto, o que parece estranho aos ativistas do movimento é o fato de setores sindicalmente ligados à Conlutas estarem à iminência de uma greve fomentada há meses (dos professores estaduais) e os rodoviários darem um passo atrás da forma que foi dado, enfraquecendo o conjunto do movimento. No caso de uma greve no transporte coletivo deveria se pensar, no mínimo, em um comando de greve de todas as categorias em greve da cidade e tentar expandir o máximo possível o movimento para satisfazer o máximo de reivindicações, mas este tipo de orientação sempre esteve ausente do repertório político daqueles que dirigem o SINTRO.
O desgaste daqueles que decidem se há greve ou não é sentido, sobretudo, pelo conjunto dos trabalhadores de Fortaleza. Para que uma mobilização desse tipo não seja afogada em sangue é necessário que de fato a maioria da população entenda e apóie as reivindicações da categoria – mas, com a falta de uma comunicação extensiva e clara do SINTRO, não nos é permitido saber sequer se há interesse da categoria em uma greve. A população temer o início de uma greve demonstra perfeitamente como esta não foi preparada devidamente – uma coisa é apoiarem ou não, outra é sequer ter informações sobre a existência dela. Resta àqueles que têm alguma simpatia pelas reivindicações da categoria reproduzir sua fé do jeito que as igrejas os ensinam. Dizem que a fé move montanhas, mas nunca foi registrada nenhuma greve vitoriosa fruto apenas da fé.
Continuando as coisas como estão, não restam mais opções ao conjunto dos trabalhadores a não ser continuar ouvindo que o SINDIONIBUS está fazendo todo o possível para melhorar a qualidade do serviço por eles prestado. Ganham os patrões e a prefeitura, que transforma o episódio em palanque prometendo não aumentar a passagem até o fim de seu mandato. Os trabalhadores, rodoviários ou não, continuam no escuro, isolados e amordaçados.
A farpa
05.08.2011

[1] Números da Fundação Getúlio Vargas.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Por condições de vida e trabalho!


Os trabalhadores brasileiros esperaram nos últimos governos por mudanças que não vieram. Muitos ainda estão dispostos a esperar, mas nossa paciência diminui com o pão que some de nossa mesa a cada dia que passa.
Com as “melhoras” que Lula e o PT trouxeram para o país aumentaram os sofrimentos para o trabalhador; carteira de trabalho assinada é um privilégio, a cada dia aumenta o tempo de trabalho, a hora extra é obrigatória, muitos são mandados embora para cortar gastos nas empresas, a juventude pobre é jogada às ruas...
Os palhaços que se dizem representantes do povo procuram diminuir aposentadorias, acabar com os direitos do trabalhador – como o direito de greve, que já não existe mais. Esperar a situação melhorar pelas mãos desses sujeitos já caiu no ridículo, não há mais espaço para nenhum messias na nossa política.
Do outro lado do planeta, no oriente médio, África e Europa, milhões de pessoas já têm que sair de suas casas para defender seus empregos, salários e suas próprias vidas. Se lá os trabalhadores forem derrotados, tentarão avançar sobre os corpos daqueles que resistirem aqui para nos tirar tudo que conquistamos nas lutas que passaram.
As únicas vezes que tivemos nossa voz ouvida e respeitada foram nas grandes greves. Já é tempo de lembrar aos patrões o poder que temos quando nos unimos. Para lutar contra o roubo dos governos deles temos que aplicar o peso de nosso punho naqueles que tomam nossa dignidade.
Na luta podemos ver quem são nossos amigos e inimigos. Aqui em Fortaleza trocadores e motoristas começaram a mostrar quem são os verdadeiros inimigos dos trabalhadores. Esses homens e mulheres devem ser apoiados pela população em sua luta por melhores condições de trabalho, o que acaba beneficiando principalmente quem precisa do ônibus para ir trabalhar ou sair de seu bairro por qualquer motivo.
Temos muitos inimigos. Dilma, Luizianne e Cid Gomes em seus palácios e por trás deles os que pagam sua vida política: os donos da indústria da construção civil (no SINDUSCOM), os da indústria têxtil, de alimentos e o resto das famílias Queiroz/Dias Branco, e os mais carniceiros: o SINDIONIBUS – donos das empresas de transporte.
Para poder continuar a resistir, temos que derrubar primeiro o SINDIONIBUS. Esta luta não é uma escolha nossa; ou lutamos ou seremos cada dia mais massacrados nos ônibus lotados e no trânsito infernal até eles nos despedirem porque não conseguimos chegar aos nossos locais de trabalho.
Como organizar nossa resistência?
A maioria de nós vê sua vida indo pelo ralo e sente que não tem como vencer essa situação. Parece que não tem muita gente se importando com o que acontece – que estamos sós no mundo, isolados uns dos outros. Nossos inimigos nos dividem e nos enfraquecem de várias formas. Ficamos presos em nossos bairros porque o transporte é muito caro, não temos tempo de sair de casa por chegar cansados do trabalho, quando as coisas não funcionam colocam a culpa em trabalhadores jogando um contra o outro como se os patrões nem existissem...
Temos nossos sindicatos, mas estes se isolam uns dos outros do jeito que os patrões querem. Temos associações de bairro que só servem como altar de suplício às autoridades. Temos algumas igrejas que reúnem trabalhadores e trabalhadoras cansados dos sofrimentos terrenos, mas seus chefes só podem garantir melhoras para a outra vida. Todos os locais que poderiam ser usados para nós organizarmos melhor nossa vida estão nas mãos de quem prefere deixar para resolver tudo amanhã.
O jeito é começarmos do começo. Encontrar pessoas dispostas a pensar como resolver logo os pequenos problemas da rua ou do quarteirão, fazer pequenas reuniões e só discutir o que é possível de se fazer. Da mesma forma no trabalho: se o sindicato não consegue organizar as paralisações que devem acontecer, os próprios trabalhadores podem conversar entre si e "derrepentemente" parar. Um pequeno grupo sozinho não pode fazer muita coisa, mas vários pequenos grupos unidos para resolver os problemas já mostram como pode ser um verdadeiro governo dos trabalhadores.
Temos que tomar cuidado em nossas reuniões e no que elas decidem. Os governos e os patrões não resolvem nossos problemas nem querem que ninguém resolva. Se nos juntamos para fazer um quebra-molas para nossas crianças não morrerem atropeladas a prefeitura vai dizer que o quebra-molas é ilegal – que só ela pode fazer, mas só no dia de São Nunca às três da tarde. Se dizemos ao patrão que precisamos de horário para almoço só ouvimos promessas ou ameaças – se todos param, chamam o sindicato, e dizem que só voltam a trabalhar com maior tempo para almoço o patrão vai dizer que é ilegal, mas não dá para mandar todo mundo embora de uma vez. Mas, se uma reunião decide por uma paralisação com a opinião dos trabalhadores dividida, o patrão manda embora aqueles que a organizam.
Nossa Segurança...
Nossa segurança e nossa saúde são as coisas mais importantes para nós. Eles já nos perseguem nos bairros onde moramos com a polícia deles e empurram o veneno do Crack em nossos jovens. Andamos desarmados porque não saímos de casa desejando confronto com ninguém, mas acabamos reféns de inimigos armados até os dentes que nos humilham e nos agridem. A polícia tem cada vez mais homens na rua, cada vez equipes mais violentas e nós, trabalhadores, nunca estivemos tão ameaçados pela violência como hoje. Se não tomarmos conta de nós, ninguém vai fazer isso.
Uma das tarefas dos pequenos grupos também deve ser a segurança. Todos devem poder saber usar uma arma, porque não se defende de quem tira o pouco que temos de mãos vazias. Mas as armas, como todo o resto, têm que ser usadas só como for decidido pelo conjunto. Uma arma é poder, e o poder não pode ser de uma só pessoa ou de uma parte menor dos grupos – senão só vamos criar outra “polícia” igual à deles. Todos devem respeitar as decisões da maioria e em caso de desobediência devem ser castigados aqueles que se envolverem.
Uma questão de segurança também é quem participa de reuniões dos grupos. Não podemos deixar fácil para eles nos identificarem para depois nos perseguir. Não precisamos de líderes que marchem à frente, precisamos avançar todos juntos e com cuidado. Os grupos só devem ter as pessoas que moram ali ou trabalham ali e ninguém mais – quando precisar falar com alguém que não é do grupo escolhemos alguém que faça isso. Caso tenha alguma coisa que apenas uma parte ou uma só pessoa deva fazer, as pessoas que forem escolhidas farão apenas o que foi decidido e só farão mais alguma coisa ou a mesma coisa de novo se uma nova reunião decidir.
Que fique bem claro para todos: se as autoridades puderem identificar quem está fazendo o que elas não fazem elas tentarão destruir essa organização e as pessoas que fazem parte dela. Por isso as decisões precisam ser simples, rápidas, seguras e precisamos saber lidar com a ilegalidade da melhor maneira para nós, não para eles.
Nossa segurança também passa por combater a epidemia de Crack e outros venenos que destroem nossa juventude. Chamamos de “drogas” tudo o que é usado para fugir dos nossos problemas: álcool, cigarros, pedra... Sabemos que existem diferenças entre essas coisas, mas não dá para passar a vida conhecendo cada uma delas. Tratar das drogas é tentar manter a saúde dos nossos.
É preciso acabar com o tráfico. A primeira coisa a se fazer para controlar o tráfico é legalizar as drogas. Já aprendemos que não adianta mandar para a cadeia quem usa drogas, agora precisamos ver que não existe como acabar com o tráfico contando com a polícia – os dois têm armas e preferem fazer acordos a correr riscos. As drogas já existem e serão vendidas. Só podemos acabar com a venda de Crack quando tomarmos e destruirmos os laboratórios de quem faz o pó e a pedra. Quando não for ilegal comercializar essas coisas saberemos quem produz, o quanto se produz e para onde vai. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, não serão produzidas mais drogas se legalizarem o comércio delas. Vários governos no mundo, por exemplo, tentam regular o consumo de cigarros e sua produção chegou a ficar menor em alguns países.
Esse problema só pode ser enfrentado por nós se tivermos algo a oferecer à juventude. Tratar os doentes e dar opções de vida para os que não entraram ainda. O jovem não tem vontade de se drogar até morrer se tiver moradia, comida, educação, esporte, trabalho. Mas, na falta de tudo porque não ter a pedra?
Desatar o nó do trânsito!
Junto com a segurança o transporte é um dos maiores problemas que todo mundo tem. Nossos salários nós tentamos arrancar de nossos patrões – e o trânsito quem resolve? Políticos? Mais uma vez não podemos contar com esses sujeitos, estão vendidos. Enquanto o trabalhador estiver em casa ou no trabalho e só esperar pelo “jeito” deles, nunca vai chegar onde quer em paz.
Nossas ruas são pequenas, a cada mês jogam mais carros nas ruas, a quantidade de ônibus diminui. Muitos acidentes envolvem os trabalhadores dos ônibus porque sempre tem lotação, pressa para chegar no horário que o patrão manda e muito carro nos engarrafamentos. As autoridades dizem que vão fazer melhorias, mas não podem fazer sumir os infinitos carros do meio da rua.
Todo dia na hora de ir e voltar do trabalho somos humilhados. Todos podem ver que tem pouco ônibus para muita gente, qualquer trabalhador não precisa de lápis e papel para fazer esse cálculo. Quando não está no famoso “horário de pico” você tem que esperar no mínimo meia hora entre um ônibus que você perde e outro. A prefeitura e sua responsável pelo trânsito, a ETTUFOR, junto com os empresários, sem nenhuma vergonha mentem dizendo que a situação está “sendo resolvida”.
A população trabalhadora de Fortaleza não foi nem pode ser contra uma greve de motoristas e trocadores porque sabem o que eles sofrem todo dia, indo e voltando juntos. Esses trabalhadores são as pessoas que mais podem ajudar a desfazer o nó do trânsito, para poder trabalhar. Com menos ônibus e mais carros menos gente anda. Não se tem mais ônibus na rua porque os donos das empresas gastariam mais dinheiro para fazer mais ônibus rodarem. A luta deles é a nossa luta para não ficar espremidos dentro de um ônibus que tem cada vez menos cadeiras durante a maior parte do nosso tempo.
Para poder ter condições de trabalhar, eles precisam que os que foram mandados embora na última greve voltem e sejam colocados em novos ônibus. Precisam ter mais ruas onde só os ônibus possam andar para evitar os engarrafamentos. Precisam se ver livres das promessas dos vagabundos no governo e na empresa – precisam se unir com os outros trabalhadores e só voltar ao trabalho quando não estiverem mais sendo açoitados nas garagens e nas ruas.
Nem todos podem perder o dia de trabalho, mas, se numa greve geral você chega sozinho ao seu trabalho ainda vai ter que passar o dia carregando o ovo do patrão. O trabalhador que se mata sozinho para agradar quem lhe paga uma mixaria não vai levar grande alegria para seu túmulo. Não podemos agradecer por nossos chefes nos roubarem todo dia, os empregos não deixariam de existir se eles não nos roubassem a maior parte do tempo que trabalhamos. Trabalhamos para eles de graça, porque eles luxam sem fazer metade do que fazemos. Só obedecemos porque é de onde conseguimos nosso dinheiro e se não tiver motivos para nos mandar embora, então não temos que temer as greves de transporte, não é culpa nossa. É culpa de outros patrões como o nosso e eles só podem nos perseguir se estivermos sozinhos.
Com o governo dos patrões não resolveremos nossos problemas. Construir um governo dos trabalhadores é um trabalhador apoiar o outro – juntos não vamos precisar ter medo. Os trabalhadores de Fortaleza têm que estar ao lado dos Rodoviários todos contra o SINDIONIBUS! Não podemos esperar nada do dia para a noite, mas também não podemos esperar pela eternidade. Se junto com motoristas e cobradores podemos duvidar se é possível conseguir resolver alguns de nossos problemas, com patrões e seus governos temos certeza que nunca resolveremos.